segunda-feira, 29 de abril de 2013

Palavras, Palavras...

Estive durante horas pensando em como começar minha primeira postagem, até que me veio à cabeça uma questão que um amigo de classe apontou em relação à língua: Se na televisão há uma discussão sobre medicina, chamam um médico. Em uma acerca de matemática, um matemático. Porque então quando há alguma discussão sobre a língua eles chamam um gramático ao invés de um lingüista? Eu diria que é porque os gramáticos dão privilégio a escrita, enquanto os lingüistas aos dados orais. Os gramáticos defendem o português “correto”, formal, e os lingüistas todas as variantes. Mas se levarmos em consideração que a fala evolui primeiro para depois evoluir a escrita como, por exemplo, a locução pronominal VOSSA MERCEDES, que foi se transformando em VOSSA MERCÊ, depois VOSSEMECÊ, VOSMECÊ e posteriormente se transformou na palavra que hoje utilizamos como VOCÊ, nada mais justo seria chamar um lingüista. Que dificuldade!
De fato o estudo das palavras é muito complexo. Mas se fôssemos discuti-lo, porque não começar com a definição de “palavra” e "lexia"? Entende-se por palavra uma unidade formal da linguagem que pode construir um enunciado. Pottier define lexia como a unidade lexical memorizada. Sendo assim, como diferenciar então palavra de lexia?
Para diferenciar uma da outra, primeiro é necessário entendê-las e identificá-las. Tomemos então um exemplo dado em classe: guarda-chuva/guarda-chuva novo/ novo guarda-chuva/guarda-novo-chuva. Vemos que todas as formas são possíveis com exceção da última, logo, percebe-se que não é permitida a separabilidade dos elementos, sendo então a expressão guarda-chuva uma lexia.
Utilizaremos agora como exemplo o verbo proporcionarei: proporcionarei/proporcionar-te-ei. Se acrescentou um pronome pessoal oblíquo ao verbo e foi possível separar os elementos mantendo o sentido, logo, proporcionarei não pode ser considerada uma lexia, mas pode ser reconhecida como uma palavra.
Resumindo: Lexia é tudo aquilo que, ao separar seus elementos, a unidade perde o seu sentido, logo, não é permitido fazê-lo. Palavra é tudo aquilo que, se alterarmos os elementos, a unidade permanece com sentido, dando origem a uma nova unidade, logo, é permitido.
Abaixo segue um poema de Carlos Drummond de Andrade (adoro seus poemas) que fala um pouco a respeito de palavras e poderia também até ser um bom conselho aos gramáticos e lingüistas nessa grande e antiga discussão a respeito de… Palavras!

A Palavra


Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.

Carlos Drummond de Andrade